segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Teleducação

Tenho lido alguns absurdos sobre o tema recentemente. Em livro publicado no ano passado (1998) pela Editora Vozes, sob o título Questões para a Teleducação, Pedro Demo afirma que os partidários do uso da tecnologia no ensino a distância parecem acreditar que a distância, em si, se reveste de valor educacional. Duvido que ele tenha uma referência bibliográfica sequer (nas centenas que espalha por seu livro) que comprove que algum defensor do uso da tecnologia na educação, ainda que afoito, tenha reivindicado valor educacional ou mérito pedagógico para a distância em si. Até me surpreende que alguém do gabarito de Pedro Demo possa chegar ao extremo de fazer uma alegação desse tipo, tão absurda. (E o livro tem outras, igualmente absurdas, que serão eventualmente discutidas neste site).

O que os defensores do uso da tecnologia na educação têm dito, em defesa do ensino a distância, é que a tecnologia permite que a distância deixe de ser fator limitante no ensino, pois viabiliza o ensino sem necessidade de contigüidade espaço-temporal, algo de resto totalmente óbvio. O máximo a que os defensores do ensino a distância podem ter chegado em seu entusiasmo é a afirmação de que algumas formas de ensino a distância oferecem vantagens em relação ao ensino presencial, realizado em salas de aula convencionais -- algo que também não é difícil de crer verdadeiro, dada a pobreza da interação que ocorre na maioria das salas de aula, seja em escolas, seja em departamentos de treinamento das empresas e outras instituições.

Já que o livro de Pedro Demo tem o título de "Teleducação", é bom que se critique essa expressão. A expressão "teleducação" é, etimologicamente, sinônima de "educação a distância" -- e, portanto, padece dos mesmos vícios desta, já apontados. Mas é uma expressão ainda mais inadequada do que "educação a distância", por sugerir aos desavisados que "teleducação" tem que ver com "educação pela televisão". Na verdade, o próprio Petro Demo não raro cai vítima da expressão que usa para dar título ao seu livro, pressupondo que teleducação tem que ver, necessariamente, com educação via imagens e não com educação via palavras ou via textos. Teleducação, no sentido original e etimológico da expressão, pode ser perfeitamente bem realizada através de palavras (pelo rádio, por exemplo) ou por textos impressos (pelo computador), nada havendo na expressão que forçosamente inclua a referência a imagens -- a não ser para os desavisados, que associam o "tele" da expressão a "televisão" e não a "distância". Quem lê o livro de Demo fica com a nítida impressão de que, para ele, o modelo de "teleducação" é o "telecurso" popularizado pela Fundação Roberto Marinho e pela FIESP. Os partidários do ensino a distância hoje, entretanto, estão muito longe do modelo "telecurso", privilegiando muito mais os recursos didáticos que a Internet tornou possível (em especial a Web, o chat, o correio eletrônico e a lista de discussão)..



Ana Paula Martins Da Costa

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